Stuart Russell e Peter Norvig | Inteligência Artificial
Capítulo 1 • Introdução 11 desse trabalho é que o cérebro consegue se adaptar para interagir com sucesso com um dispo- sitivo externo, tratando-o por fim como se fosse outro órgão ou membro sensorial. De certa maneira, cérebros e computadores digitais têm propriedades diferentes. A Figura 1.2 mostra que os computadores têm um tempo de ciclo que é 1 milhão de vezes mais rápido que o cérebro. O cérebro compensa isso tendo muito mais capacidade de armazenamento e interconexões que um computador pessoal de última geração, apesar de os maiores supercom- putadores apresentarem capacidade similar à do cérebro em algumas métricas. Os futuristas enaltecem demais esses números, apontando para a proximidade de uma singularidade em que os computadores alcançariam um nível sobre-humano de desempenho (Vinge, 1993; Kurzweil, 2005; Doctorow e Stross, 2012), e então rapidamente se melhorariam ainda mais. Porém, as comparações numéricas cruas não são especialmente informativas. Mesmo com um compu- tador de capacidade virtualmente ilimitada, ainda precisamos de mais avanços conceituais em nossa compreensão da inteligência (ver Capítulo 28). Colocado de forma grosseira, sem a teoria certa, máquinas mais rápidas apenas dão a resposta errada mais rapidamente. 1.2.5 Psicologia • Como os seres humanos e os animais pensam e agem? Normalmente, considera-se que as origens da psicologia científica remontam ao trabalho do físico alemão Hermann von Helmholtz (1821-1894) e de seu aluno Wilhelm Wundt (1832- 1920). Helmholtz aplicou o método científico ao estudo da visão humana, e seu Handbook of Physiological Optics ( Manual de Óptica Fisiológica ) é descrito até hoje como “o mais importante tratado sobre a física e a fisiologia da visão humana” (Nalwa, 1993, p. 15). Em 1879, Wundt abriu o primeiro laboratório de psicologia experimental na Universidade de Leipzig. Ele insis- tia em experimentos cuidadosamente controlados, nos quais seus colaboradores executariam uma tarefa perceptiva ou associativa enquanto refletiam sobre seus processos de pensamento. O controle cuidadoso percorreu um longo caminho para transformar a psicologia em ciência, Singularidade Axônio Corpo celular ou Soma Núcleo Dendrito Sinapses Arborização axônica Axônio de outra célula Sinapse Figura 1.1 Partes de uma célula nervosa ou neurônio. Cada neurônio consiste em um corpo celular ou soma, que contém um núcleo celular. Ramificando-se a partir do corpo celular, há uma série de fibras chamadas “dendritos” e uma única fibra longa chamada “axônio”. O axônio se estende por uma longa distância, muito maior do que indica a escala desse diagrama. Em geral, um axônio tem 1 centímetro de comprimento (100 vezes o diâmetro do corpo celular), mas pode alcançar até 1 metro. Um neurônio faz conexões com 10 a 100 mil outros neurônios, em junções chamadas “sinapses”. Os sinais se propagam de um neurônio para outro por meio de uma complicada reação eletroquímica. Os sinais controlam a atividade cerebral em curto prazo e também permitem mudanças a longo prazo na conectividade dos neurônios. Acredita-se que esses mecanismos formem a base para o aprendizado no cérebro. A maior parte do processamento de informa- ções ocorre no córtex cerebral, a camada exterior do cérebro. A unidade organizacional básica parece ser uma coluna de tecido com aproximadamente 0,5 mm de diâmetro, contendo cerca de 20 mil neurônios e estendendo-se por toda a profundidade do córtex (cerca de 4 mm nos seres humanos).
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