Stuart Russell e Peter Norvig | Inteligência Artificial

CAPÍTULO Denominamos nossa espécie Homo sapiens – homem sábio – porque nossa inteligência é muito importante para nós. Durante milhares de anos, procuramos entender como pensamos e agi- mos , isto é, como nosso cérebro, um mero punhado de matéria, pode perceber, compreender, prever e manipular um mundo muito maior e mais complicado que ele próprio. O campo da inteligência artificial , ou IA, vai ainda mais além: ele tenta não apenas compreender, mas tam- bém construir entidades inteligentes – máquinas que conseguem computar como agir de modo eficaz e seguro em uma grande variedade de novas situações. Segundo pesquisas, a IA é considerada um dos campos mais interessantes e de mais rápido crescimento, já conseguindo gerar mais de um trilhão de dólares por ano em receitas. Kai-Fu Lee, especialista em IA, prevê que seu impacto será “maior do que tudo na história da humanidade”. Além disso, as fronteiras intelectuais da IA estão escancaradas. Embora um estudante de uma ciência mais antiga, como a física, possa achar que todas as boas ideias já foram desenvolvidas por Galileu, Newton, Curie, Einstein e demais, a IA ainda tem espaço para vários Einsteins e Edisons em tempo integral. Atualmente, a IA abrange uma enorme variedade de subcampos, do mais geral (apren- dizagem, raciocínio, percepção etc.) ao mais específico, como jogar xadrez, demonstrar teo- remas matemáticos, criar poesia, dirigir um carro e diagnosticar doenças. A IA é relevante para qualquer tarefa intelectual; é verdadeiramente um campo universal. 1.1 O que é IA? Afirmamos que a IA é interessante, mas não dissemos o que ela é . Historicamente, os pesqui- sadores têm seguido diversas versões diferentes de IA. Alguns têm definido a inteligência em termos de fidelidade ao desempenho humano , enquanto outros preferem uma definição abs- trata e formal da inteligência, chamada de racionalidade – em termos gerais, fazer a “coisa certa”. O tema em si também varia: alguns consideram a inteligência como uma propriedade dos processos de pensamento e raciocínio internos, enquanto outros enfocam o comportamento inteligente, uma caracterização externa. 1 Dessas duas dimensões – humano contra racional, 2 pensamento contra comportamento –, existem quatro combinações possíveis, com adeptos e programas de pesquisa para todas as quatro. Os métodos usados são necessariamente diferentes: a busca da inteligência semelhante à humana deve ser em parte uma ciência empírica relacionada à psicologia, envolvendo obser- vações e hipóteses sobre o comportamento humano real e os processos de pensamento; uma abordagem racionalista, por outro lado, envolve uma combinação de matemática e engenharia, que se conecta a estatística, teoria de controle e economia. Cada grupo tem ao mesmo tempo desacreditado e ajudado o outro. Vamos examinar as quatro abordagens com mais detalhes. 1 Aos olhos do público, às vezes há confusão entre os termos “inteligência artificial” e “aprendizado de máquina”. O aprendi- zado de máquina é um subcampo da IA que estuda a capacidade de melhorar o desempenho com base na experiência. Alguns sistemas de IA utilizam métodos de aprendizado de máquina para alcançar competência, mas outros não. 2 Não estamos sugerindo que os seres humanos sejam necessariamente “irracionais” no sentido de “desprovidos de clareza mental normal”. Simplesmente precisamos observar que as decisões humanas nem sempre são matematicamente perfeitas. Inteligência Inteligência artificial Racionalidade 1 INTRODUÇÃO Neste capítulo, tentamos explicar por que consideramos a inteligência artificial um assunto digno de estudo e em que procuramos definir exatamente o que é a inteligência artificial, pois essa definição é importante antes de iniciarmos nosso estudo.

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